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Novembro 14, 2010 / rutemorais

Draft#06 Unidade de Informação | Linhas de conexão: a rede invisível

Por Rute Selésio de Morais

«Os factos nunca são isolados. Eles dependem uns dos outros. Interagem uns com os outros»[1].

Continuando o trajecto até aqui percorrido chego, agora, mais perto do rizoma enquanto construção de rede que constitui um sentido mas que os seus fragmentos não têm que necessariamente apontar para o mesmo caminho[2].
Depois de me deparar com o documentário da BBC, Seis Níveis de Separação, começo a pensar nesta ideia de rizoma talvez ainda de um modo diferente. O documentário, para além de nos falar de uma rede social mundial à qual todos pertencemos, fala-nos de que tudo no mundo, sem excepção, vive segundo um sentido de conexão: os homens, os animais, as doenças, etc.
No fundo, e como nos é apresentado no documentário «a natureza tem um mapa oculto que conecta todos nós»[3]. Uma das coisas bastante curiosas apresentada pelo matemático Steven Strogatz, é a questão de como é que é possível a ordem surgir de um caos. Passo a explicar a interrogação citando-o, «somos habituados a pensar que se há um grupo de adeptos, que actua em conjunto, é porque há um regente para a orquestra, no entanto, não é necessariamente assim»[4]. Vejamos, ele explica que, por exemplo, há 100 biliões de células cerebrais que trabalham com a coisa provavelmente mais complexa do universo. Mas, na verdade, não há nenhuma célula que seja a regente do cérebro, o cérebro acaba por ser um todo e age, no fundo, individualmente, no entanto, tendo por consequência um fim e, esse sim, gerado em grupo[5]. O cérebro acaba, então, por constituir também um rizoma. E a explicação dada por Strogatz relativamente ao processo cerebral, parece-me, de facto, extremamente adequada à de rizoma.

Ao analisarem o caso da Internet os cientistas e matemáticos no documentário chegam à conclusão que a maioria das páginas tem poucos links mas há algumas com um grande número de conexões, havendo uma enorme discrepância. Há alguns sites que têm, de facto, milhares de links – esses eles designam-los por hubs, pontos centrais que determinam as ligações no mundo. Temos o exemplo, actualmente do Google, o Amazon, o Yahoo, etc. No fundo, podemos interpretar a Internet como sendo um verdadeiro mapa[6].
O que para mim tem verdadeiro interesse aqui, é o facto de que, como acontece hoje em dia, a partir de um hub, por exemplo o Google, passo a publicidade, chegamos ‘onde queremos’. Aliás essa é a sensação (ilusão?) que nos é transmitida através da Internet, chegar onde se quer, isto porque as fronteiras do ciberespaço estão completamente esbatidas. Parece que, começa aos poucos a deixar de haver fronteiras visivelmente definidas. O que, no fundo, é realmente claro, é que para se chegar ‘onde se quer’, é preciso navegar no oceano imenso da Internet e da Web, teia que permanentemente nos sustenta essa possibilidade, visto que, pelo menos aparentemente, tudo liga.

Por exemplo, o projecto Patent Database Visualization de Christopher Baker pode apresentar, a meu ver, esta ideia de que tudo mais tarde ou mais cedo acaba por se ligar. Este projecto trata, exactamente, de uma plataforma interactiva que relaciona bancos de dados. E através do qual é bem visível o relacionamento que existe entre os dados que o artista explora.

Através dele acedemos a um mapa pelo qual, nós próprios, andamos quando acedemos a informação. As linhas que unem os pontos poderiam, com toda a certeza, representar o nosso percurso. No entanto, como questiona Lévy, «um mapa global não poderá tornar-se ilegível a partir de uma determinada quantidade de ligações, cobrindo-se o ecrã de linhas entrecruzadas, por entre as quais já não se distingue nada? (…) As representações em três dimensões seriam menos confusas e mais fáceis de consultar (…), o utilizador teria a impressão de entrar numa estrutura espacial e de se deslocar nela como no interior de um volume»[7]. Porque no fundo, toda esta ideia de relação nos remete, constantemente, para uma ideia que é, toda ela, um percurso.
Outro exemplo que vai, em grande medida ao encontro do que o documentário nos apresenta é que a partir de qualquer pessoa conseguimos chegar a outra, esteja ela onde estiver. Porque «conhecemos alguém que conhece alguém, que conhece alguém, que conhece alguém… que me conhece a mim ou qualquer pessoa do planeta»[8]. Isto acontece em determinados sistemas, por exemplo o Linkedin é uma plataforma através da qual as pessoas se conectam com outras que em principio conhecem, no entanto, é-lhes dada a oportunidade de conectarem outras que não conhecendo, conhecem também, isto porque o Linkedin dá a possibilidade de eu ser amiga dos amigos dos meus amigos, chegando a um ponto que, através desta possibilidade, estamos todos ligados.

Em suma, esta ideia de que tudo no mundo age através de redes, parece cada vez mais fazer sentido, a ideia de rizoma está, de facto, impressa em tudo. E, consequentemente, através dos tais hubs o mundo acaba por se tornar pequeno. O rizoma expressa essa ideia de pequenez ligada ao facto não de pouca informação mas de que podemos alcançar tudo, porque «cada parte encontra-se conectada e pode ter diversos níveis de interacção com o resto do sistema» [9]. As relações constróiem-se, reconstróiem-se, reposicionam-se como no projecto de Christopher Baker. E, se por um lado a ideia de rede nos remete logo à partida para uma possibilidade imensa de chegarmos a tudo, por outro remete-nos para algo, mais do que isso, permanentemente em construção.

___________________________

[1] BBC, Documentário Seis niveis de separação
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem
[5] Idem
[6] Idem
[7] LÉVY, Pierre, As tecnologias da Inteligência – O Futuro do Pensamento na Era da Informática, Piaget, Lisboa, 1994, pp. 48-49
[8] BBC, Documentário Seis niveis de separação
[9] FURTADO, José Afonso, Hipertexto revisited, [consult. 2010-11-03], dísponivel em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/7525/539

2 comentários

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  1. Magda / Dez 15 2010 12:26 pm

    Olá! Você poderia me indicar onde encontro o documentário da BBC? Eu procurei na internet de diversas maneiras e não o encontrei. O nome original é em português mesmo?
    Fico muito grata! Tb faço mestrado e seria de grande contribuição a minha pesquisa. =)
    Abraços,

    • Rute Morais / Jan 16 2011 2:53 pm

      Olá Magda,

      Antes de mais peço imenso desculpa pela resposta chegar tão tarde mas não me foi possivel antes, até porque também estive à procura da resposta para o teu comentário, porque já tinha o documentário há imenso tempo comigo, de modo que não sabia onde o encontrar agora.

      O nome original é ‘Six Degrees of Separation’, eu encontrei-o num blog que tem todos os trechos do filme, a partir do youtube (http://direitoacademico.webnode.com.br/news/documentario%20-%20seis%20graus%20de%20separa%C3%A7%C3%A3o%20(six%20degrees%20of%20separation)/ ), no entanto, e se quiseres ficar mesmo com ele no teu computador, terá que ser a partir de um programa que é o uTorrent, não encontrei outro modo mais fácil e, como não sei se já o utilizaste, deixo aqui tudo o que precisas de fazer para que possa ser o mais simples possível:

      1.Instalas o programa uTorrent (http://www.utorrent.com/intl/pt/);
      2.Depois neste site (http://www.acervopublicitario.com.br/2009/12/seis-graus-de-separacao-six-degrees-of.html) fazes o download do Torrent, irá abrir-te outra página e carregas em download down (rectângulo verde, maior);
      3.Descompactas o ficheiro que recebeste – ficheiro ‘.rar’;
      4.Arrastas só um dos ficheiros, o que não for as legendas, para dentro do programa uTorrent.

      E pronto,
      Espero ter ajudado 🙂
      Qualquer coisa que precises, é só dizeres,
      Cumprimentos

      Rute Morais

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